Texto por Diogo Barros
Hibridismo celestial, suspensão temporal, liquefação espacial. Corpo, fluorescência manifestada acima da linha do horizonte, é guardião e sinaliza o caminho para Favorito, em um diálogo de caninos flutuantes e esmaecidos. Fração de um universo permeado por quimeras, Garra III revela-se em transparências de escala ampliada, descortinando um ciclo narrativo instaurado por Refeição e Matinal, contrapostos em movimentos de caça e convívio.
Banquete apresenta trabalhos da fase mais recente e pulsante de Nicholas Steinmetz, marcada pela experimentação na pintura em suportes e dimensões múltiplas. Em comum, há em cada pintura o desejo de percorrer os caminhos abertos da linguagem em uma dinâmica de descoberta e encantamento.
Nicholas é um colecionador de imagens. Aquilo que brilha aos seus olhos e lhe causa estranhamento é registrado em cadernos, em composições embrionárias. Tendo o desenho como matriz de seu trabalho, as cenas, uma vez elaboradas, passam a permear um universo formal fragmentado, no qual cada elemento é resgatado em novas proposições na medida em que deságuam nas propriedades da pintura.
Cambiante, seu processo de materialização é aberto a retomadas e novas elaborações. Ao fundo do Espaço Totó, em um ateliê tomado por telas e recortes de mdf, as superfícies estão sempre à espreita, suscetíveis a novas camadas através de uma paleta compartilhada. Simultaneamente, amplia-se uma atmosfera particular, sugerindo que o ciclo de uma obra pode culminar em outra – como num sonho, que dispensa a linearidade do começo e do fim.
Além do caráter idílico na elaboração de cenas improváveis, o onírico é manifestado nesse conjunto de trabalhos por meio da diluição das narrativas em planos concomitantes e sobrepostos. Híbridas e espectrais, as figuras estabelecem seu domínio no campo pictórico em pares ou através de uma cadeia de interações. São vislumbres localizados no cruzamento de fronteiras, cenas moldadas no mais extraordinário detalhe de uma visão.